VÍDEOS

             
  25-02-2016  

Você na TV, programa da TVI, com Cristina Ferreira e Manuel Luís Goucha, apresentam na reportagem "Estórias da Gente" a arte da marcenaria e embutidos

Da reportagem:

Cristina Ferreira
É o sr. Canhoto que é um homem às direitas.

Manuel Luís Goucha
É sim senhor

Mestre Firmino Canhoto
O trabalho é todo manual, olhe é tudo feito como era antigamente.

Eu nasci numa aldeia pequena da Beira Alta, Aveloso Mêda Distrito da Guarda. O meu pai era João Canhoto era moleiro e a minha mãe era padeira, por esse motivo e em tempo de fome eu e os meus 14 irmãos nunca passamos fome. Porque batatinhas e pão, o meu pai também era agricultor, nunca nos faltou à mesa.

O meu pai me pôs a aprender um oficio de carpinteiro, o que na altura, nos anos 50 era um privilégio um rapaz ir aprender uma profissão. O meu pai pagava nessa ocasião 3 escudos por semana para ir aprender. Nessa altura pagava-se para aprender um ofício. A dada altura comecei a perceber que o meu mestre fazia coisas maravilhosas, com embutidos e talha, comecei a tomar gosto pelo que ele fazia e a tomar gosto por esta profissão. Que se chama ebanista, e agora me perguntarão o que é ebanista? Ebanista é marceneiro de arte, eram os marceneiros que trabalhavam para a corte.

Fui obrigado a ir para o Ultramar, e seja bem dito que fui obrigado, não fui de livre vontade. Depois lá, como sempre gostei muito de teatro e de música, fundei um grupo de música tradicional portuguesa e um grupo de teatro. Regressei a Portugal, depois a minha mulher que já era minha madrinha de guerra que me escrevia cartas, aerogramas, não eram cartas. Um dia fui à minha terra e fui pedir a mão da minha mulher, ao meu sogro. Viemos para o Monte da Caparica onde montei a minha oficina e depois do Monte da Caparica viemos primeiro para a Aboboreira, que é uma terrinha pequenina de moleiros, depois da Aboboreira viemos para o Livramento onde montamos a oficina.

O primeiro desafio que me foi posto foi o meu mestre que me pediu para fazer este banco onde estou sentado. Que se chama Banco Mocho que é usado nas marcenarias, bancos que são muito úteis para nós. Eu nunca imaginei começando por fazer um banco mocho que hoje pudesse ter peças espalhadas, não direi por todo o Mundo, mas por toda a Europa. O maior desafio que nos foi posto, à cerca de 5 meses, foi esta secretária que está aqui.

João Canhoto
É uma secretária onde tem a fachada do Palácio de Mafra em cima, tem várias gavetas e vários segredos. Porque o nosso Atelier, já vem desde o pai, é conhecido também pelo Atelier dos segredos. Sem ter recurso a puxadores vou conseguir abrir estas gavetas. Um pormenor todas estas madeiras, nomeadamente, todo os interiores das gavetas são feitas em madeira de sândalo, uma madeira perfumada e perfuma tudo o que se coloque lá dentro, nunca irá perder este perfume.

Mestre Firmino Canhoto
Os meus filhos começaram aqui nas férias grandes do verão, não andavam na boa-vai-ela, pagava-os o ordenado e vinham para aqui trabalhar.

Carla Canhoto
Imaginem os olhos de uma criança ver nascer Histórias embutidas na madeira. Histórias de Reis, Princesas, Rainhas, foi fascinante, foi uma paixão, foi uma coisa super normal.

João Canhoto
Decidimos abraçar esta profissão, eu e a minha irmã porque nós consideramos a mais bela arte de trabalhar a madeira.

Mestre Firmino Canhoto
O que hoje aqui fazemos é puro luxo. O meu pai dizia “depressa e bem, não à quem” e o meu mestre dizia “o bem feito, bem parece” e se o bem feito bem parece e se eu estiver a fazer esta peça ou outras dura toda a vida. Dura toda a vida porque utilizamos as melhores madeiras, todos os melhores materiais e é portante tudo vidas. Eu sinto muito orgulho hoje por saber que daqui a 100, 200 anos alguém vai ver a assinatura Canhoto nas costas dos nossos móveis.

Comecei a pisar os palcos com 7 anos na minha terra em Aveloso. Fundei o grupo Teatro os Incríveis da Aboboreira em 1968, durou 43 anos, eu era encenador, actor, escrevia os textos, acho nunca estive na bilheteira de resto fiz lá tudo. Depois na música é a minha grande paixão, fundei várias coisas, últimos 2 que tenho, que fundei à pouco tempo foi a Universidade Sénior de Mafra e tenho o meu querido grupo de Cavaquinhos do Oeste. Toco 16 instrumentos e aprendi sozinho, se calhar os que gosto mais é a Concertina, o Cavaquinho e o Banjo, o Banjo, o Banjo.

Eu fazendo um balanço total da minha vida foi super positivo, graças aos meus amigos, a família à profissão que eu tenho, foi muito bom... E quero continuar com isto durante muitos anos.

Manuel Luís Goucha
Isto para mim é Portugal no seu melhor

Cristina Ferreira
E é pertinho da minha casa...

Manuel Luís Goucha
E é verdade e é também da minha... Parabéns a esta família a família Canhoto, artistas na arte da marcenaria e dos embutidos

Cristina Ferreira
Cruzes Canhoto que há tanta gente boa.

Manuel Luís Goucha
Parabéns a esta família.

Cristina Ferreira
Um aplauso.