VÍDEOS

             
  01-10-2013  

Mundo S/A, programa da TV Globo, mostra a alta costura dos móveis portugueses.

Mais uma vez o Atelier Móveis d'Arte Canhoto vê o seu esforço reconhecido, desta vez além fronteiras.

"O mais respeitado mestre marceneiro de Portugal". Boina, um lápis atrás da orelha, um bandolim nas mãos, foi assim que mestre Firmino Adão Canhoto recebeu o ilustre repórter da TV Globo, André Luiz Azevedo, ao qual agradecemos a honra que nos foi dada, em apresentar a nossa arte ao Mundo Brasileiro, com uma população de mais de 200 milhões.

Da reportagem:

Longe da produção em massa, um trabalho meticuloso e em vias de extinção. Como sobreviver nos moldes de antigamente.

Essa mesa só se faz uma por ano, só se vende por isso uma por ano, e custa nada mais nada menos do que duzentos mil reais.

Em Portugal, uma empresa pequena, familiar. A continuidade de uma tradição.

Boina, lápis atrás da orelha, um bandolim nas mãos. Mas Firmino Canhoto não é um músico. Ele é o mais respeitado mestre marceneiro de Portugal e criou uma oficina, como nos tempos do renascimento na Europa.

Mestre Firmino Adão Canhoto - Eu gostei sempre de coisas difíceis. As coisas simples a mim não me dizem nada. Então achei que este trabalho de embutidura que era um trabalho que requeria de mim muita atenção, muito gosto, que sempre tive, mas também sabendo que depois deste esforço de entrega, as pessoas acabavam por admirar o meu trabalho. E é isso que tem acontecido ao longo dos quase 60 anos que vou fazer de profissão.

Nós vamos conhecer a alta costura dos móveis portugueses.

São aquelas peças de museu, rebuscadas, com muitas incrustações. Parece coisa mesma para família real. Se bem que, olhe só, a guarnição da cama é mesmo para Sua Alteza Real, Príncipe da Beira Dom Afonso de Bragança. Mas nós não estamos num museu, nem esses são móveis antigos. Aqui tudo está recém produzido, mas respeitando os modelos e desenhos originais, principalmente dos séculos dezassete e dezoito.

Nós estamos na oficina da família Canhoto, fica em Mafra, a 30Km de Lisboa.
Há 60 anos Sr. Firmino Canhoto começou a trabalhar como marceneiro e se transformou numa referência na fabricação de móveis de luxo.
O filho e a filha também entraram no negócio e hoje a oficina Canhoto é a principal fabricante de móveis de super luxo em Portugal. Se bem que de fábrica, aqui não tem nada. Esta é mesmo uma produção artística artesanal.

João Canhoto - Para este tipo de trabalho temos que usar madeiras que vêm dos quatro cantos do Mundo. E têm que ser madeiras, digamos de topo, luxuosas. Muitas delas é difícil de encontrar no nosso mercado, infelizmente.

Repórter - Madeira do Brasil vocês usam?

João Canhoto - Felizmente é das madeiras que mais usamos. Desde o Pau Santo, há uma que é o Pau Roxo, uma madeira arroxeada, que só, curiosamente, existe no Brasil. É mesmo roxa a cor natural!

João Canhoto diz que a cada dia fica mais difícil conseguir madeiras nobres. As restrições ambientais transformaram este tipo de madeira uma raridade e cada vez mais cara. Como não há material alternativo para este tipo de madeira, o jeito é não desperdiçar. Aqui uma diferença então em relação ao passado, que se usava madeira maciça. As peças são folheadas.

Começa então a transformação. Cada pequena peça tem que ser trabalhada, depois de recortada, começa a receber as incrustações, diversos tipos de madeira, como num quebra cabeças. A irmã Carla também entra nesta fase do processo.

Repórter - Você está fazendo a madeira, transformando a madeira em cor não é?

Carla Canhoto - É. Vamos dar assim um ligeiro sombreado, assim um mais escuro.

Repórter - Quais são as cores que você tem aqui?

Carla Canhoto - Estas mais claras é madeira de Buxo, que é nacional. Esta verde é madeira de tília que é tingida com processos que o nosso Atelier tem. E esta aqui mais cor de rosa, é madeira de Pau Rosa.

Além do pai e dois filhos, a oficina só tem mais um empregado. É mesmo um negócio pequeno. Facturamento anual é de cerca de 450 mil reais. Não há lojas, nem representantes. A produção é de apenas 10 peças pequenas, como faqueiros, apenas uma Mesa das Damas, o top da oficina que nós ainda vamos mostrar em detalhes, e 10 Contadores por ano.

O principal estilo é o Indo Português. Herança de uma época em que Portugal conquistou o Mundo e sofreu muita influência do Oriente. Este aqui é o exemplar clássico: um contador com muitas incrustações de madeira, marfim. Uma peça linda e o João vai nos contar a história porquê que essa peça, primeiro chama-se Contador, com tanta gavetinha assim, João...

João Canhoto - Contador porquê? Porque servia para guardar contas, desde dinheiro, jóias, pertences, documentos. O facto de ter muitas gavetas, serve para guardar contas.

A arte de incrustar, embutir materiais diversos na madeira é muito antiga. Foi desenvolvida no Egipto e no Oriente e é de lá que Portugal recebeu a maior influência. Hoje restam poucos fabricantes espalhados pelo mundo, na China e aqui na Europa, na Itália, na Espanha e em Portugal. No Brasil a técnica também é conhecida como marchetaria. Quanto mais incrustações, desenhos, materiais diversos, mais nobre e cara é a peça. Na oficina Canhoto, além de diversos tipos de madeira, os móveis recebem outros materiais, como Marfim, Madrepérola, Prata.

A família Canhoto não dá muitas informações sobre os compradores, que preferem o anonimato. Mas fornece alguns preços. Os armários contadores estão por volta de 40 mil reais. O estojo para faqueiro em madeira recortada custa 9 mil reais. Mas para algumas peças, como a Mesa das Damas o céu parece ser o limite. Então é hora de descobrir porquê o Mestre Canhoto também é chamado carinhosamente de o Marceneiro dos Segredos.

Agora nós vamos conhecer a jóia da coroa. Essa mesa, só se faz uma por ano, só se vende por isso uma por ano e custa nada mais nada menos do que 200 mil reais. É uma mesa que tem muita coisa e o Sr. Canhoto que vai nos mostrar porquê que essa mesa Sr. Canhoto custa tão caro e demora tanto para fazer assim. O que é que tem essa mesa de tão especial.

Mestre Firmino Adão Canhoto - Ora bem, começo por dizer que esta é uma mesa de estilo D. José, uma Mesa das Damas, estilo D. José.

Repórter - E isso remonta a que época no passado?

Mestre Firmino Adão Canhoto - Sim, é do tempo de D. José, do tempo da monarquia. Daqui deste lado temos a assinatura e o número. Vamos aqui desarmar um pé. É um dos segredos. E agora se quiser jogar cartas eu vou abrir este tampo.

Repórter - Ah! temos uma mesa de cartas.

Mestre Firmino Adão Canhoto - Uma mesa para jogar cartas. Agora se quisermos jogar outros jogos, levantamos isto para cima e vamos aqui ter uma mesa para jogar o quê? Gamão, Xadrez e Damas.

Repórter - Aqui é uma mesa mais rica, com muito mais inscrustação.

Mestre Firmino Adão Canhoto - Esta é muito mais rica. E aqui está todo o trabalho. Ela é feita em Ébano, Pau Santo, Pau Rosa, Pau Violeta, Marfim e Madrepérola. E agora vou abrir o último tampo que serve para pôr no centro de um salão e servir um chá. Mas para servirmos um chá precisamos de um tabuleiro. Tem um tabuleiro para servir o chá. Um bule. Temos aqui um espelho para as Damas (porque é a Mesa das Damas) e tem um sítio para esconder as notas, quer carregar a ver se... não tem lá notas, mas é para esconder as notas. Tem aqui gavetas falsas, esta gaveta não abre, e esta aqui tem aqui esta gaveta onde pode ser escondido alguma coisa, uma jóia por exemplo... Estas ferragens são em Prata, tem aqui o contraste da Casa da Moeda, portanto a autorização. Uma peça destas que demorou nove meses a fazer tem que ser defendida do caruncho. Então como? Através do perfume desta madeira, que é o Sândalo, nunca sai este perfume. O caruncho chega aqui (caruncho é uma praga que ataca a madeira) e com este perfume ele vai-se embora, aqui não se governa! Vou mostrar, especialmente para a TV Globo um segredo que não mostro a outras pessoas, para não estar a estragar a peça. Vou tirar esta aqui... Estão aí uns pernezinhos, retire para cima por favor. Isto caiu, e eu agora vou tirar aqui um cofrezinho, mais um cofre.
Já ninguém faz este tipo de trabalho, muito menos esta mesa, o que faz que isto, daqui por 100 a 200 anos tem um valor incalculável esta mesa.

A oficina Canhoto de Portugal passa de pai para filho os segredos de trabalhar em pequena escala, como no passado. Um negócio feito por poucos, que poucos podem comprar e que tenta sobreviver em plena época de produção em massa.